MOMENTO LÍTERO CULTURAL

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ANDRÉ KONDO – ENTREVISTA Nº 709

 

BIOGRAFIA

André Kondo é pós-graduado pela University of Sydney e morou na Austrália e no Japão. Viajou por mais de 60 países em busca de inspiração para a sua escrita, escalando vulcões na América Central, percorrendo trilhas no Himalaia, cruzando o Círculo Polar Ártico, mergulhando na Grande Barreira de Corais, explorando os caminhos de Machu Picchu, da Ilha da Páscoa, de Santiago de Compostela, Jerusalém, vislumbrando a Grande Muralha da China, as pirâmides do Egito, o Taj Mahal... Realizou uma peregrinação literária nos Estados Unidos, em uma viagem paga inteiramente com poesia (por prêmios literários da Unifor e da UFSJ), visitando desde o túmulo de Jack Kerouac à soleira da casa onde nasceu Hemingway, passando pelas casas de Poe, Melville, Twain em uma périplo de mais de 10 mil quilômetros, alcançando a pedra sob a qual repousam as cinzas de Jack London e os alicerces da cabana de Thoreau. Com a inusitada experiência e com uma Bolsa de Criação Literária do ProaC – Governo de São Paulo, escreveu “A Peregrinação das Folhas Caídas” (Prêmio Vicente de Carvalho – UBE-RJ, finalista do Prêmio Guarulhos), inspirado pelos grandes autores norte-americanos. Recebeu mais de trezentas premiações literárias por textos nos mais variados gêneros. Possui trabalhos publicados em dezenas de antologias e revistas literárias no Brasil, em Portugal e no Japão. É editor da Telucazu Edições e da Revista Nikkei Bungaku, sendo o vice-presidente da Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil/ANBLA e membro-correspondente da ASES, ATL e AMLAC. Autor de dez obras publicadas, sendo nove premiadas, incluindo: “O Pequeno Samurai” (FTD), finalista do Prêmio Jabuti e 2.ª lugar no Prêmio João-de-Barro; “Contos do Sol Nascente (JBC), Prêmio Bunkyo, Prêmio Esfera das Letras, Prêmio ProAC; e “Contos do Sol Renascente (Telucazu), Prêmio Humberto de Campos, UBE-RJ. Vive de literatura. Site: www.andrekondo.com

 

ENTREVISTA

 

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever?

ANDRÉ KONDO -  Todas as minhas atividades são ligadas à literatura. Sou leitor, escritor, editor (Telucazu Edições), livreiro. Também dou palestras e oficinas de criação literária. Enfim, posso dizer com alegria que vivo de minha paixão pelas palavras.

 

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?

ANDRÉ KONDO - Foi durante a infância. Não fui uma criança que saía muito para brincar na rua. Preferia ficar em casa. Muitos dos meus melhores amigos daquela época moravam em livros. Foi a leitura de obras como as de Monteiro Lobato (passei a infância em Taubaté) que me fizeram sonhar em me tornar um escritor. Queria fazer o mesmo. Escrever para que meus livros fizessem companhia para outras crianças como eu. 

 

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados?

ANDRÉ KONDO - Tenho dez livros publicados: Além do Horizonte (em alguns capítulos narro a minha passagem por Rondônia), Amor sem Fronteiras (Prêmio Paulo Mendes Campos - UBE-RJ), Contos do Sol Nascente (Prêmio Bunkyo, Prêmio ProAC, Prêmio Esfera das Letras - Portugal), Palavras de Areia (Prêmio Alejandro Cabassa - UBE-RJ), Cem pequenas poesias do dia a dia (Prêmio Unifor), Jabuti sabe voar? (Prêmio Maria Osternach Pedroso), Alguém viu minha mãe? (Prêmio CEPE), O pequeno samurai (M. H. Prêmio João-de-Barro e finalista do Prêmio Jabuti), Contos do Sol Renascente (Prêmio Humberto de Campos - UBE-RJ) e A peregrinação das folhas caídas (Prêmio Vicente de Carvalho - UBE-RJ, finalista do Prêmio Guarulhos de Literatura, Bolsa de Criação Literária ProAC - Governo de São Paulo).

 

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias?

ANDRÉ KONDO - O agora. Quando morava de favor em uma ala desativada de um asilo, eu só tentava sobreviver da escrita. Depois de ter dado a volta ao mundo, eu queria voltar à estrada. Mas como, sem dinheiro? A solução veio com um edital da Universidade de Fortaleza, que premiava o melhor livro de poesia inédito com uma passagem aérea para Washington, para conhecer a maior biblioteca do mundo, a do Congresso Nacional. Naquele momento, comecei a escrever sobre as minhas experiências sobre o mundo, poemas sobre os vulcões da Guatemala, sobre as pedras de Jerusalém, sobre os domos do Taj Mahal... Foi então que percebi que nada daquilo poderia superar o poder do agora. Eu não estava mais em nenhum daqueles lugares. Estava em um asilo na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo. E foi ali que fui buscar a poesia, no meu quintal. Escrevi sobre as pequenas "poesias" que me cercavam naquele momento: uma formiga, uma folha seca, uma chave perdida-encontrada... Foi assim que venci o prêmio de literatura Unifor e fui aos Estados Unidos, onde viajei por mais de 10 mil quilômetros, visitando as casas de Poe, Hemingway, Melville, Jack London e Kerouac... Pagando tudo apenas com poesia. A viagem foi a inspiração para um livro que escrevi por meio de uma bolsa de criação literária e que, posteriormente, recebeu um prêmio da UBE-RJ: A peregrinação das folhas caídas. Poesia é isso. É o agora. 

 

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?

ANDRÉ KONDO - Admiro muitos escritores e escritoras. Tanto que já viajei milhares de quilômetros para conhecer a casa em que nasceram ou as lápides de seus túmulos, como fiz com os/as que mencionei. Ainda estou devendo uma peregrinação literária pelo Japão. Gostaria de "visitar" Eiji Yoshikawa, Kawabata, Yukio Mishima... Por enquanto visito Cora Coralina, Machado de Assis, Monteiro Lobato (no meu quintal). Mas devo dizer que tenho muita sorte, porque sou editor e posso publicar escritores e escritoras que também admiro, como: Alexandre Takara, Eder Rodrigues, Edgar Jacques, Emir Rossoni, Fátima Gomes, Gílson Yoshioka, Hildon de Melo, João Paulo Hergesel, Lilly Araújo, Lya Gram, Dr. Raul Marino Jr., Rodolfo Barreto, Teresa Bendini, Thoshio Katsurayama, Viviane Santyago. Muitos conheci pelos caminhos da literatura, em eventos pelo Brasil. Posso afirmar que é um privilégio ter publicado cada um/a deles/as. E ainda ouso sonhar publicar autores como Oscar Nakasato, Célia Sakurai, Antônio Torres, João Anzanello Carrascoza, Maria Valéria Rezende, Lucia Hiratsuka, Stella Maris Rezende, João Marcos Parreira, Marina Colasanti, Marcus Vinicius Quiroga, Socorro Acioli, Batista de Lima... ah... São Tantos que leio e admiro. Tem o Caio Riter, a Simone Pedersen, Alex Gomes, Cinthia Kriemler, Walther Moreira Santos, Zulmar Lopes, Odemir Tex, Vivian de Moraes, Tatiana Alves, Assis Antônio, Elias Araújo, João Paulo Parisio, Roberto Klotz, Eliana de Palma, Olga Agulhon (ah, esse pessoal da ALM!), Cris Dakinis, Edweine Loureiro, Rodrigo Domit, José Ronaldo Siqueira, Henriette Effenberger, Airton Souza, Regina Alonso, Sérgio Bernardo, Marilia Kubota, Regina Ruth Caires, Waldir Capucci, André Luís Soares, Pedro Melo, Geraldo Trombin, Eduardo de Paula, Nathan Sousa, Alberto Paco, Júlia Heimann, Márcio Martelli, Flávia Muniz, Sônia Peçanha, Lóla Prata, Gladis Berriel, Edelson Nagues, Jayme Vieira, Caonneto, Feldman, Whisner Fraga, Luiz Eduardo de Carvalho, Edih Longo, Antônio Neto, Silvia Anspach, Ricardo Chagas, Beth Vidigal, Ricardo Lahud, Rosana Banharoli, Gabriel dos Santos, Yoko Nitahara, Morokawa, Paulo Kaneko, Silvio Sano, Severino Rodrigues, Joel Garcia, Junior Spades, Otacílio Monteiro, Dora Oliveira, Teresa Yamashita, Hijo, Rhosana Dalle, Jacqueline Salgado, Dilson Solidade, Mariana Carrara, Felipe Munhoz, Evandro Valentim, Pollyana Gama, o casal Donadon e os poetas aldravistas Bicalho e Ferreira, Nathalia Wigg, Eliana Jimenez, Karina Issa, Assis Furtado, Adalberto Cornavaca, Perpétua Amorim, Henrique Bon, Romeu Viana, Marilia Lacerda, Cássia Janeiro, Viviane Veiga, Isabel Furini, Carlos Vazconcelos, Lyrss Buoso (aqui me complico, porque são tantos escritores e tantas escritoras boas na ASES de Bragança), Reynaldo Damázio, Sandro Capestrani. Tem o Wilson, o Piaia (e aqui já vou esquecendo parte dos nomes, mas não da literatura), Claudia Manzolillo, Eliana Cruz, Antônio Zechin, Jeanette Cnop, Paulo Franco, Natalina da ULA, Diego Rebouças, Stefânia, tem o pessoal do CAPOSM, da ATL, como a Maria Marlene e da AMLAC. Puxa, com certeza esqueci de muitos... E tem alguns dos meus ex-alunos/as de oficina de criação literária, que já estão levando a série o ofício da escrita, como Alex Rosa, Giovane Almeida, Orides, Nando Nogueira, Beatriz Sayeg, Carla, Gisele, o jovem Lucas, as jovens Amanda Bistafa, Jéssica, Beatriz Munarolo... aqui citei só quem está participando de concursos ou lançando livros, mas me complico mais ainda, porque adoro todos, aliás, aprendi muito mais do que ensinei ao longo das minhas oficinas. Para alguns autores/as tive a honra de escrever algum texto de apresentação nos seus livros, como o Mauricio Cavalheiro, Jussara Godinho, Soraia Magalhães, Emerson Braga... Ah, e tem a saudosa Stella Leonardos, Silvana Felipe, Maria Zerbinato, os saudosos Carlos Bruni e Ademar Schiavone... A lista é muito extensa. E o melhor de tudo é que conheço pessoalmente quase todos. Peço desculpas, pois ficaria dias citando tantas pessoas incríveis que conheci durante a minha caminhada literária. Com certeza ficaram de fora muitos. Não estou em casa, por isso não estou sequer consultando a minha estante, toda tomada por obras autografadas. De fato, o meu tesouro, pelo qual sinto uma profunda gratidão. 

 

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos escritores?

ANDRÉ KONDO - Na literatura, tudo é possível. Viajei mais de 10 mil quilômetros pagando tudo apenas com poesia (prêmios por poesia pela Unifor e UFSJ). E paguei minhas contas por um ano com... poesia (Bolsa de Criação Literária em Poesia do ProAC - Governo de São Paulo). Então, se a poesia foi capaz de me fazer vivenciar isso, o que seria impossível? Certa vez, ao dar de presente o meu livro de estreia para o Ignácio de Loyola Brandão, durante a minha primeira participação como palestrante em uma festa literária (FLIC), eu disse, constrangido diante do meu ídolo: gostaria de te dar o meu livrinho. No que ele  respondeu de pronto: Não quero! Em seguida, explicou que não se dá uma coisinha para alguém que se gosta. É preciso dar o melhor. É isso o que venho buscando em minha caminhada literária. Busco novas (e velhas) leituras, novas experiências. Vivo cada linha como se fosse o fim (ou início) de um bom livro. Parece tudo meio vago demais. Então, um conselho prático seria: participem de concursos literários, uma das melhores portas que encontrei para entrar nesse mundo das letras. Faço parte da equipe de um blog capitaneado pelo Domit, que divulda tais certames. É só acessar: http://www.concursos-literarios.blogspot.com.br . Ganhando ou não, ao menos aperfeiçoamos a nossa escrita e os nossos sonhos.

 

POESIA

A casa que habito

 

A casa que habito
não tem lembranças nos ladrilhos
não tem porta presente
porão de passado
janela para o futuro

Na casa que habito
as notícias não passam da soleira
com o irônico capacho de bem-vindo
– todos pisam na hospitalidade 
e beijam a porta na cara – 
as ‘novidades’ amarelam do lado de fora
e são abandonadas em alheias varandas 
que o mundo insiste em enganar
com tragédias velhas
repetidas à exaustão

Na casa que habito
ouço o sussurro das tábuas
o gemer dos pregos
nada é concreto – tudo é devaneio
acredito em papais noéis
só não tenho chaminés

Na sala há uma cadeira de balanço
que só vai e nunca volta
no quarto, uma cama de casal solteira
com uma mancha de arrependimento no lençol
na cozinha, o relógio está sempre faminto
com os ponteiros devorando as madrugadas
e regurgitando escuridões nas horas de luz

A torneira da pia do banheiro
goteja solidões
a banheira é colo, o corpo nu fetal
o eco dos azulejos embaçados
e o choro primordial
de um parto sem útero

A casa que habito
não está em rua alguma
encontra-se em um eu desconhecido
na Alameda dos Ausentes,
sem número.

*****

Sobre sementes e folhas

 

Penetro na surda casca do outono

As linhas do meu tronco tatuam

Cada intempérie congelada em desterro

Camadas de perdas e esquecimentos

 

Na ponta de meu galho mais alto

Sobrevive uma folha de esperança

Flâmula resiliente que vislumbra

O tombar das alheias folhas fúnebres

 

Eis que o vento, que de muito longe veio, a alcança

E de mim exige a derradeira despedida

As pontas dos meus galhos arranham

O céu sem nuvens

Agarram-se à última prova de existência

Mas não há que ser em vão

A folha ainda trêmula

Suga de mim a cansada seiva

Um último gole antes da travessia – de qual deserto?

 

Cada nervura seca, das rugas e ranhuras,

É testemunha de que existiu um verão

Se um dia o verde em mim habitou

É porque cumpri a semente

É porque honrei as raízes

É porque ergui o tronco

É porque estendi os galhos

É porque me apaixonei flor

É porque me sacrifiquei fruto

É porque abandonei todas as minhas estações e o orgulho de floresta

Para deitar-me novamente tão somente: SEMENTE

Que não testemunhará o sacrifício da derradeira folha

Que não saberá voo — até o dia em que

O outono lhe vier cobrar

O inverno que sempre chega.

*****

Walden

 

Construo minha cabana

— imaginária —

às margens de Walden,

teto de folhas.

 

O telhado invertido

sob meus pés

resvala a alma

de quem planta feijões.

 

E não são mágicos estes feijões?

Que retiram do solo aparentemente morto

toda a vida em suas ramas,

que alcançam meus dedos na colheita,

que nutrem o meu corpo

às margens de um imenso olho d’água que tudo vê?

 

O olhar navega em uma folha

sobre as pequenas ondas

crispadas de vento primaveril,

e deslizam outro tanto no inverno,

quando se faz necessário

vestir minha alma de frio

para que o olhar congele

em cada floco de segundo

que o céu nos concede.

 

Não é lindo cada partícula do tempo

que contém o eterno caindo na palma da mão?

O lago descongela,

as folhas retornam aos galhos,

o outono volta a colhê-las

e as mãos do vento

as depositam sobre as águas

onduladas de Walden.

 

Sentado à beira do lago

contemplo uma folha

e nela embarco, mais uma vez,

o olhar.

 

A folha naufraga,

mas meu olhar

continua a navegar.

 

Poema do livro “A peregrinação das folhas caídas”: https://kondo.lojaintegrada.com.br/a-peregrinacao-das-folhas-caidas-andre-kondo

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