MOMENTO LÍTERO CULTURAL

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FRANCISCO MARTINS

 

NUPCIAS SERTANEJA

 

Foi no morrer do dia que a festa terminou,
Houve fartura de tudo celebrando aquele amor.
Dois leitões foram assados,
Seis capotes bem torrados,
Arroz de leite cozinhado,
Feijão com queijo temperado.
Um tocador de sanfona,
Uma zabumba arretada,
Pandeiro bem sapecado,
Som de triângulo afinado.
Nada faltou na festança.
Serviram bebidas quentes,
Pinga que derruba gente,
Tinha mais que um tonel.
Ponche de melancia,
Licor de toda milagria,
Batida de limão com mel.
Era tudo alegria,
Mas precisava parar.
O noivo abria a boca,
Fingia sono chegar.
Foi só mais um pouquinho
Para a festa terminar.
Quando todos foram embora
Só ficou lá na tapera,
Um vaqueiro na espera,
Uma donzela em primavera.
A noite abraçou a casa,
O vento trouxe frescor.
Por entre as palhas unidas,
A lua também chegou,
Deixando pingos de luz
No celeiro do amor.
Foi tudo tão verdadeiro,
Tão puro e sertanejo.
Adonde tocou vaqueiro
Donzela se arrepiou,
E a noite foi pequenina
Na geografia do amor.
No quebrar da barra
O casal se apartou.
Gado chamou vaqueiro,
Donzela se levantou.
Naquele chão bendito,
Sob sol tão escaldante,
O par se separou
Pedindo na sua fé
Por outra noite de amor.

Mané Beradeiro – Natal –RN 8-11-2016

 

CLÁUDIA LUNDGREN

 

O Tempo

 

"O tempo....

 Mocinho ou vilão

 Tolerante ou não

 Inverno ou verão

 Faca de dois gumes

 Dia ou noite

 Luz ou escuridão

 

 O tempo...

 Cedo ou tarde

 Sol ou lua

 Do ano, as estações

 Frio ou quente

 Sequidão ou chuva

 Veloz ou lentidão

 

 Percebo o tempo passar

 Quando me olho no espelho

 Implacável tempo...

 Faz minha pele enrugar

 E embranquecer

 As raízes do meu cabelo

 Me faz amadurecer

 

 Com a passagem do tempo

 Crescem os filhos

 Os netos chegam

 Pessoas nascendo

 E também morrendo

 O fim do inverno, a primavera

 O tempo segue, jamais espera

 

 Voltar ao tempo?

 Só nas lembranças

 Muitas histórias

 Da minha infância

 Cheiros, lugares

 Amigos, amores

 Tempos felizes, tempos de dores."

 

LOURENÇA ÇOU

 

o amor nosso de cada dia

 

ele andava torto pela vida

passava por amores e não os reconhecia

carregava os bolsos cheios de cansaços

 

ela não era mulher de muito amar

tinha bolsa pesada de interesses sólidos

e dormia numa confortável cama vazia

 

tropeçaram um no outro debaixo de um ipê

reconheceram-se cobertos de flores amarelas

e viram-se par nas adversidades da vida

 

ele desentortou a coluna e fabricou um elefante

ela esvaziou a bolsa e descobriu o significado de epifania.

 

RUTE PIO LOPES

 

Improviso

 

 Tenho sede do tempo 

 De beber ar, do vento 

 De dançar descompassadamente ao relento 

 Alheia a qualquer julgamento 

 

 Tenho sede do teu sorriso 

 Desse sumptuoso paraíso 

 De pisar o improviso 

 Perder o juízo e dobrar o riso 

 

 Mas, se de quando em vez, 

 Nem tempo, nem sorriso me vês 

 E não adivinhas os porquês 

 Será porque talvez, 

 

 Afinal tenha avidez do tempo, 

 Quando deste lado fica cinzento. 

 E do triste rosto sisudo 

 Quando do sorrir não faço uso.

 

REGINA MADEIRA

 

O Retrato

E, agora, olho, então, o seu retrato.
Pendurado na parede do meu quarto.
Frente a frente, os meus olhos nos seus.
Lá na sala, as paredes muito brancas.
As cortinas, numa brisa, voam mansas.
São lembranças, testemunhas do adeus.

Na lareira queimam brasas, em silêncio.
Não se importam com meu peito em incêndio.
A gritar, sentindo falta desse amor.
O sofá, acomodando as almofadas.
Que com tempo estão ficando desbotadas.
Sempre mudas, assistindo a minha dor.

Num impulso, tiro o quadro da parede.
Lanço ao fogo, que o recebe em sua sede.
Com a garra toda da destruição.
Ouço o vidro que na queda se estraçalha.
Logo as chamas queimam a foto como palha.
Destruindo esse amor de maldição.

Olho o fogo que agora é chama mansa.
Devolvendo ao meu peito a esperança.
 Que a chuva do meu pranto faz nascer.
Logo brota um novo amor, uma quimera.
Como flores de uma nova primavera.
Rasgando a noite, num doce amanhecer.

 

CARLOS EDUARDO MASSOCO

 

Selmo, estou lhe enviando a poesia que fiz para o Zemauro e que está no meu livro SEMEADOR DE LETRAS

 

 

Menino,

mesmo experiente,

um menino

que sabe o que é ternura.

 

É assim que o vejo, Zé

E isso é tão raro...

 

O tempo passou

e você inventou

e contou estórias

para meninos de outros tempos.

 

Zé, Rosinha hoje boia perdida

num oceano de lágrimas...

 

Fizeram lenha de sua lima

e ninguém lhe deu um lenço

nem um acento na Academia.

Lá, não há ternura, Zé!

 

Um nadador como você,

não precisa de academias,

precisa de água.

 

Nade, Zé

que Rosinha, imortal,

o espera.

 

ADELINA VIANA

 

POESIA A CORES

És aquele céu alto azul, amarelo, cinzento
Feito de todas as cores do arco-íris e do sentimento...
És a cor dos sorrisos e do sonho profundo,
És o céu feito de árvores, animais e ternura
Tens em ti todas as cores do mundo
E a minha a loucura...
Tens a saudade que chora os amores que
perdi...
És o céu vestido de rosas, cores, sons e desejos....
Tens-me até eu partir porque morrer, já morri!
És o céu  da cor de todos os meus beijos
És a doçura, colorida, de pessoas geniais
És a bondade que ecoa nos corações especiais...
És, os mares e lagos entre o azul e verde
És o berço onde nasce a alegria
És a magia que nunca, se perde
És, o meu grande Amor, Poesia!

 

AGUEDA MAGALHÃES

 

 É tarde ...

 

Não queiras me dizer

hoje

o que deverias ter dito

ontem.

Palavras emudecidas são

pedras

irremediavelmente

submersas no abismo do

silêncio

.

Não queiras reviver

hoje

o que deverias ter vivido

ontem.

O passado é espectro:

sobre sua lápide

repousam florzinhas

amarelas

frágeis e tímidas.

Ao embalo do vento,

amorosamente escrevem

na leveza do ar

melancólicos versos de

adeus.

 

Não lamentes.

Não chores.

O Ontem é irremissível,

não voltará.

O momento é breve.

E o sonho,

uma vez perdido,

voa

como aves

que dispersas,

entre a incerteza do

ocaso

e o presságio da noite,

buscam

em vão

nos anúncios da aurora

pistas da manhã-

saudade,

vestígios do regresso

esquecido.

Não reclames.

Não murmures.

Afinal,restou a memória...

E entre lembranças

esmaecidas,

irrompe aquela saudade

lânguida

indefinível

de uma nostálgica

história de amor

que nunca saiu do papel.

 

IVY MENON

 

Pau Brasil

 

meu pai orgulhava-se de ser brasileiro

País com cheiro de madeira de lei

e cortava peroba

figueiras gigantes no serrote

seus braços eram só pão para a família

dizia-me de olhos semicerrados

estuda que a vida sem livros é árvore tombada

fruto não dá mais

 

cresci procurando sementes

temendo árvores derrubadas por raios

o futuro no chão sem chance de nascer

 

as folhas escritas nascidas das árvores mortas

meu pai não conhecia

foram salvação para meus dias

 

embora chore as dores de não saber

o universo em minhas mãos

inda creio nas crianças

que perambulam pelas ruas

sonhando letras feitas

de suor e madeiras repaginadas

 

ASSMA GABRIELA

 

MINHA NOVA PAIXÃO    

 

Estou deveras apaixonada.    

Não sei nem como explicar.     

As pessoas me perguntam:    

desde quando te sentes assim?     

E eu respondo: desde sempre.     

Paixão...Como explicar?   

O que é sentir-se apaixonado?   

É rir com o amado,    

É sorrir com a brisa no rosto,  

É alegrar-se com o estar vivo,    

É apaixonar-se a cada dia,   

Pela mesma pessoa...    

 

E. apaixonadamente, repetir      

Para si mesmo:   

Como te quero, meu bem.   

Não sei viver sem você.     

Direito ao esquecimento

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