Entrevista histórica - Por Selmo Vasconcellos

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FRANCISCO ANDREOLI – EM MEMÓRIA (ETERNAMENTE LEMBRADO)

 

(01 de novembro de 1941 – 14 de setembro de 2004)

Poeta, cronista e odontólogo, na área de ortodontia.

 

Entrevista realizada em 9 de janeiro de 1992, na página Momento Lítero Cultural (editores Selmo e o saudoso Bahia), jornal Alto Madeira, Porto Velho, RO

 

FRANCISCO ANDREOLI, nascido em Campos do Jordão, São Paulo, 50 anos de idade, 10 dos quais em Rondônia por opção.

Estudou odontologia, tendo feito especialidade na área de ortodontia, participou da UNE como estudante, enfrentou a repressão, está decepcionado com a classe política e com o nível de politização do brasileiro.

Publica poemas e crônicas há 30 anos, por periódicos esparsos pelo país. Reside em Ji-Paraná, onde também se dedica a vida rural, em contato com a natureza, sua última opção para os tempos da aposentadoria que estão próximos.

O leitor do jornal ALTO MADEIRA vai conhecer um pouco mais sobre ANDREOLI através desta entrevista que ele concedeu ao SELMO VASCONCELLOS para o Momento Lítero Cultural.

 

SELMO VASCONCELLOS– COMO SURGIU SEU INTERESSE PELA LITERATURA?

FRANCISCO ANDREOLI – Meu interesse pela literatura aconteceu muito cedo, mercê de um pai que teimava em colocar Monteiro Lobato em minhas mãos, até que o gosto pela leitura explodiu como uma descoberta mágica. Com 8 ou 9 anos, já havia lido todos o Lobato infantil, Edgar R. Burroughs, desaguando aos 12 anos em Érico Veríssimo, Júlio Verne e Jorge Amado. Daí para a frente a coisa que mais fiz em minha vida foi ler. Aos 50 anos continuo lendo.

 

SELMO VASCONCELLOS– AS AUTORIDADES E A CULTURA SÃO FORÇAS ANTAGÔNICAS?

FRANCISCO ANDREOLI – Não creio que a cultura, como expressão de um povo tenha qualquer vínculo com autoridades. Melhor seria que não existisse a expressão “cultura oficial” pois o povo desconfia de tudo que é oficial.

 

SELMO VASCONCELLOS– Rondônia e a cultura. Fale sobre o Estado quanto ao seu desenvolvimento social e cultural.

FRANCISCO ANDREOLI – Rondônia é muito jovem. A única coisa que pode interferir no crescimento e na formação cultural da região é o tempo. Como não temos autoridade sobre o tempo, resta esperar que depois destas primeiras gerações surjam valores locais, cada vez mais expressivos e que sejam reconhecidos pela comunidade.

 

SELMO VASCONCELLOS– E COMO ESTÁ A SUA PRODUÇÃO LITERÁRIA ATUAL?

FRANCISCO ANDREOLI – Tenho produzido pouco e  normalmente meus trabalhos são publicados nos jornais de Rio Branco, Acre, onde existe uma forte manifestação literária e algumas vezes nos jornais de São Paulo onde trabalhei há mais de uma década.

 

SELMO VASCONCELLOS– QUAL A MENSAGEM QUE VOCÊ PASSARIA PARA OS QUE DESEJAM ADENTRAR O UNIVERSO LITERÁRIO?

FRANCISCO ANDREOLI – A mensagem seria : Quem não lê porque não quer é muito pior do que aquele que não lê porque não sabe.”

 

...AO VIAJANTE FUTURO

 

Tu, que trazes, assim tão confiante

Em tua forte mão, perseverante,

os caminhos do futuro,

deixa-me ver como será o amanhã.

Sentir o frêmito questionante

de uma brisa refrescante

no último reduto da vida.

Ou a luz palidecente,

a a vibração tépida, quente

de um sol que não verei

com olhos

Deixa-me ver vagamente,

como quem olha de repente,

o quebra-mar de séculos

futuros.

Tu que passas, sempre à frente

e levas, no limiar da mente

os dias que virão,

deixa-me ver, suplico,

-Como será o amanhã.

 

(Do livro “ENIGMA DOS CÂNTICOS”)

*****

PRECE SINGELA

 

Senhor, dá luz aos olhos cegos

Dos homens que têm olhos,

Mas já não podem ver:

A beleza das flores

A alegria das nuvens,

Os olhos que falam!

Senhor, dá sons aos ouvidos

Dos que não ouvem mais:

O canto dos pássaros,

O riso dos pequenos,

O gemido dos pobres!

Senhor, dá sentimentos aos homens

Que viraram máquinas,

Para ganhar dinheiro

Para vestir bem,

Para não viver...

Senhor, acima de tudo

Dá firmeza de alma

Aos filhos teus.

Que ainda ouvem,

Que ainda veem,

Que ainda sentem:

Para que todos um dia,

Possam ver sem pagar!

Possam ouvir sem gemer!

Possam sentir sem magoar!

 

(Do livro “ENIGMA DOS CÂNTICOS”)

*****

BALADA DO MENINO NEGRO

 

Cristo veio a minha porta

Era noite de natal

Cristo mesmo

Veio sim

E não quisemos

E nem pudemos recebê-lo

 

Mas como?

Como saberíamos

Que o menino negro

De carapinha suja

De andrajos vestido

De pés corroídos

E tão machucados...

 

Com olhos de corça

Ferido, magoado.

Menino jogado

Menino de rua....

 

Mamãe tem gente batendo lá fora

Meu filho, mas logo agora?

Papai eis que batem.....

Agora meu filho, agora não dá

Agora a champagne vai estourar

 

Que queres menino tão preto

Tão feio?

Tens fome, tens sede, tens frio?

Meus pais, o menino pediu agasalho e comida

E água também.

 

Meu filho é natal!

Já é hora de cortar o assado

Esse moleque safado só vai atrapalhar.

Feche a porta, vamos cantar.

 

E ele, só ele

Na noite de chuva e tempo sombrio.

Passou fome e frio

Na porta do meu lar.

Cristo veio a minha porta

Era noite de natal

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