A solidão do ato de pensar na casa ribeirinha – por Marquelino Santana

Concentrar-se fenomenologicamente na solidão não significa um processo de distanciamento ou isolamento com o instigante ato de pensar. A solidão não abdica ao ato de conhecer e não provoca uma ruptura entre a liberdade, os modos de vida e o ser.

 

O pensar benevolente entrelaçado aos valores do cenário da natureza e imbricado à cotidianidade da terra mãe, elimina o infortúnio e reacende a dinamicidade da felicidade das coletividades originárias e tradicionais da Amazônia no sentido de evitar a degradação do espaço de ação e evitar o colapso da biodiversidade e o consequente ecocídio planetário.

 

A casa ribeirinha não é adepta da derrocada humana, é nela onde brota o ontológico ato de pensar e o sentimento de perenidade da alma com a vida. Esse imaculado sentimento de relação do homem com a terra, gera uma poética estetizante que preza por uma visão holística de mundo e pela complacência e deslumbramento de uma transcendental exuberância cósmica em profundo estágio de beneficência espiritual.

 

Se para Gaston Bachelard a casa é o nosso canto do mundo, para Eric Dardel, a inserção do homem no mundo é um lugar de um combate pela vida, a manifestação do seu ser com os outros e a base de seu ser social, assim como para o escritor Otto Bollnow, a casa segue sendo, num significado profundo, um território inviolável da paz, e desse modo é nitidamente separada do mundo inquieto lá fora.

 

A solidão do ato de pensar na casa ribeirinha evita o sentimento de tristeza e frustração, e na contemplação de suas águas amazônicas, promove o embelecimento da memória coletiva e de um axiológico imaginário familiar da vida humana planetária.