O filósofo existencialista e escritor Jean-Paul Sartre disse uma vez, "o inferno são os outros". Se levarmos ao pé da letra, o pastor Jim Jones se enquadra perfeitamente na definição, obviamente analisando pelo viés do politicamente incorreto. Jones, líder religioso, que ganhou fama em 1978, reuniu centenas de seguidores fanáticos na seita que criou denominada Templo Popular, localizada na Guiana Francesa, onde aconteceu o maior suicídio coletivo da história. Ali, sob às hostes do "bom pastor", mais de 900 pessoas, instigadas a encontrar o paraíso, beberam suco com cianeto. Cercados pelas autoridades, os seguidores e o próprio Jim Jones foram encontrados mortos.
O bizarro cenário de horror com as cenas dantescas de pessoas mortas amontoadas, chocaram o mundo. É essa história o foco de mais um livro lançado pela editora DarkSide. "Jim Jones, massacre em Jonestown", do premiado jornalista investigativo Jim Guinn, com sua narrativa, esmiúça a vida de Jones desde a infância até os fatos que o levaram ao ato extremo. O autor é conhecido dos leitores, é dele a biografia de outra figura polêmica e infame, Charles Manson, o líder de uma seita de assassinos. O repórter gosta mesmo de figuras bizarras.
No livro, com mais de 500 páginas, Guinn mostra em detalhes o poder exercido por Jim Jones sob seus adeptos. Ele encarnava uma figura imponente e messiânica, propagava curas milagrosas e fraudulentas aos quatro ventos, organizava encontros religiosos de grande porte nos quais acolhia as minorias e, ainda, disponibilizava aos seguidores do Templo Popular diversos recursos assistenciais, tornando-se um homem respeitado, idolatrado e com grande influência política.
Jones, mediante sua pregação religiosa, conquistou a confiança e a fé de pessoas suscetíveis que nada questionavam de seu líder, sempre austero, mas que escondia sua verdadeira face. O pastor falava de um iminente apocalipse nuclear, que os incautos rapidamente passaram a acreditar e com isso a seita ganhou mais força e seguidores. Foi então, que Jim Jones fundou Jonestown projeto agrícola da organização religiosa sob sua liderança, situada no noroeste da Guiana — o refúgio construído para que todos escapassem de um mundo condenado ao grande apocalipse final. Ali, quem entrava não poderia sair e àqueles que tentaram, os capangas armados que vigiavam o local tinham ordens para eliminar as "ovelhas desgarradas".
A obra examina a vida de Jim Jones desde a sua infância, o abuso de drogas, os primeiros passos como líder religioso até a conturbada decisão de transferir seus seguidores para um assentamento nas selvas da Guiana.
Guinn analisou milhares de páginas de arquivos do FBI, entrevistou dezenas de pessoas e também viajou para a cidade natal de Jones, onde conversou com pessoas que nunca antes haviam falado sobre o assunto. O livro traz detalhes impressionantes dos eventos que levaram ao trágico novembro de 1978. A obra é um alerta para o perigo que corremos ao seguir cegamente os profetas do Apocalipse.
Cada vez mais testemunhamos o surgimento de lideranças políticas e religiosas, que usam e abusam da ignorância e da fé de milhões para ascender ao poder e legislar em proveito próprio. Os adeptos se tornam seguidores fiéis, suscetíveis e manipuláveis às ordens destes líderes, que os incautos obedecem como se fossem seres especiais, quase divinos, perfeitos e cheios de boas intenções.
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Quando não se conhece ou se ignora a História, facilmente as pessoas, por mais esclarecidas ou não, acabam acreditando e daí para se tornarem fanáticos, é apenas um passo ou uma pregação ou discurso político. Um exemplo, é o pastor Jim Jones, que infelizmente, na atualidade, muitos têm comparado a abominável figura com políticos populistas contemporâneos, como é o caso da deputada pela Califórnia Jackie Speier, que sobreviveu ao massacre de Jonestown há mais de 40 anos, que chama Donald Trump de líder carismático capaz de atrair pessoas desiludidas parecidas com aqueles que se tornaram parte da congregação de Jim Jones. Com a única diferença, que agora existem às mídias sociais, portanto o alcance é perigosamente maior e mais eficaz e devastador.
Tragédia inspirou filme Jim Jones, o pastor do diabo
Realizado dois anos depois da tragédia em Jonestown, o filme exibido na televisão no formato de minissérie, "Jim Jones, o pastor do diabo" (1980), com direção de William Graham, conta em 192 minutos, a trajetória do pastor Jim Jones vivido brilhantemente pelo ator Powers Boothe (Tombstone, a justiça está chegando, Morte súbita). Ainda no elenco Brad Dourif (Um estranho no ninho), James Earl Jones (A grande esperança branca), Irene Cara (Fama), Diane Ladd (Coração selvagem), Ed Lauter (Jogo bruto), Brenda Vaccaro (Supergirl), Meg Foster (Eles vivem), Ned Beaty (Amargo pesadelo), Randy Quaid (Independence Day), entre outros.
Sinopse
Após sofrer inúmeras denúncias de ex-membro de seu culto, o reverendo Jim Jones (Powers Boothe), líder do grupo Templo Popular, decide mudar sua organização para uma terra de ninguém na Guiana. Lá, criou a comunidade que viria a ser batizada com o seu nome: Jonestown. No entanto, a mudança de ares só aprofundou os problemas internos de sua seita, levando todos os seus integrantes a um fim trágico.
Pouco antes do suicídiocoletivo, membros da seita haviam esfaqueado e metralhado uma comitiva de jornalistas que acompanhava a visita do senador Leo Ryan ao Templo do Povo. Ele fora à Guiana investigar denúncias de abusos e violência no local.
Em 2024 foi exibido o documentário Jonestown: Massacre no Culto 2024. O trabalho foca na história de uma organização religiosa idealista liderada pelo infame Jim Jones, que se propôs a criar uma comunidade utópica na Guiana. O que começou como um movimento pacífico em busca de justiça social acabou se tornando um incidente com múltiplas vítimas que deixou 918 mortos. A partir de depoimentos de sobreviventes e testemunhas, a série oferece uma visão detalhada das últimas horas que antecederam um dos capítulos mais sombrios dos Estados Unidos