Por Charles Frazão de Almeida
Foto: Divulgação
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Raimundo Leandro Gê e Isabel do Carmo Bedatti Gê, foram meus heróis. Casal incomum: um ‘homenzinho’ de um metro e trinta, que costumava passear de mãos dadas com sua esposa elegante, de um metro e setenta.
A união, a cumplicidade, a sabedoria e bom humor que os vinculava. Reduzia a zero, o insignificante e desprezível detalhe de estatura na foto. Percebia-se na elegância dos diálogos que desfrutavam noite adentro, sozinhos ou na companhia dos amigos do dominó. Exemplo que nos inspirara nas aulas de matemática e português.
Leandro Gê, como gostava de ser chamado, dizia-nos: “hoje lhes ensinarei uma palavra difícil, para tentar explicar o complexo ajuste de Imposto de Renda de Pessoa Física, cujo calendário está encerrando.Aprendi o termo com minha esposa, quando falara da nossa pequenez perante o universo, enfatizando a palavra: INCOGNOSCÍVEL! Alguém pode explicar?...”
Como reinara o silêncio na sala, continuou. “É algo que está além da nossa capacidade de compreensão; ou seja, não é só desconhecido, mas, também, incompreensível”.
— Tenho uma colega professora, que trabalha em outra escola, porque o que ganha é pouco. São mais de quinhentos alunos e anotações burocráticas de secretarias que lhes exigem tempo de dedicação.
Como artistas dos sinais vermelhos, ela, também, “se vira nos trinta”, pra ganhar pouco mais de sete mil reais. Em um contrato recebe quatro mil e setecentos reais por mês. No outro, três mil cento e vinte. Em todos os meses do ano figura na tabela de tributação da alíquota de 22,50% (mais paga, efetivamente, 6,65%), no primeiro contrato. No outro, na tabela dos 15% (mas descontam 1,81%).
Porém, jamais refletiu que, por mês, ganhando mais de sete e setecentos, deveria pagar o imposto de renda com alíquotas de 27,50% (que, efetivamente, seria 10%, de imposto retido na fonte).
Essa diferença mensal, lhe gera dívida de mais de quatrocentos reais, de imposto de renda. Então, no final do ano, vem o Leão com o seu ajuste e lhe cobra tudo. Mais de cinco mil reais. Portanto, não deixem para o final do ano. Recolham, mensalmente, tudo que devem de IR, em regime de caixa!
Dos doze meses do ano, praticamente, um é do Leão. Solução imprevisível: consignado em 12 parcelas, para não cair na “jaula do Leão”. Agora, o que era cinco mil, com os juros bancários, passa para sete mil reais e setecentos. Outro profissional, com a mesma quantidade de dependentes, recebendo dez mil, em um só contrato, se enquadra nos 27,5%, (taxa efetiva de 8,56%).
Paga menos imposto de renda, proporcionalmente, talvez até restitua o que pagou a mais. Já perdeu a noção do quanto ganha, mas ‘se vira nos trinta’ para convencer seus alunos que, “o Brasil é o país do futuro”. Se não entenderam, finalizava, não se preocupem. Já havia lhes advertidos que seria incognoscível.
Nos ensinou, também, outra palavra que sua esposa gostava de usar. METÁFORA. Sabem o que significa?... Como reinara o costumeiro silêncio na sala, dizia-nos: vou lhes explicar. Havia dito a ‘Bel Gê como havia lhes ensinado planejar o pagamento mensal do imposto de renda. Não simpática com o assunto, contou-me uma daquelas historinhas, que se transmite via WhatsApp. Assim:
— “Era próximo às 18h., e o comércio local estava há poucos minutos para encerrar expediente, quando seu Nivaldo, o dono açougue, notou que havia adentrado em seu estabelecimento um bonito cão labrador, com uma canga nas costas. O formoso cão, latia e olhava: ora para seu Nivaldo, ora para a canga. Isso, de forma insistente. Como se quisesse dizer algo. O açougueiro foi até ele e observou um bilhete em que estava escrito: “quero um quilo de carne. Filé mignon. Há cem reis na bolsa. Depois que descontar o preço devolva o troco, depositando-o de onde o tirou. E, ao lado esquerdo, coloque a carne embalada, por favor”.
Seu Nivaldo achou estranho, mas atendeu o cão como se último cliente daquele dia fosse. Ao sair do açougue, viu que o cão labrador estava parado na pista de pedestre, esperando o sinal verde. Antes, porém, havia pulado e tocado com o focinho o botão que indica presença de pedestre na pista.
Resolveu seguir, sem ser notado, aquele cão esperto. Queria descobrir quem era o adestrador para, talvez, adquirir um labrador. Ao chegar na casa, o cão tentava entrar pela porta, insistindo abri-la ora com as patas, ora com o focinho.
Não conseguindo, pulou pela janela. Em seguida, ouviu-se forte barulho de algo quebrando-se. E, logo depois, um latido forte de dor lancinante do cão, como se estivesse sendo chicoteado. Imediatamente, seu Nivaldo bateu à porta da casa para salvar o cão e observou um senhor irado, segurando o chicote.
Disse-lhe: não faça isso! Venho seguindo este animal desde o meu trabalho que acabara de encerrar expediente. É um cão inestimável. No que, o irritado dono, respondeu: “Não, não, não...esse f.d.p merece apanhar, sim, senhor! Já disse a ele várias vezes, pra levar a chave da porta, antes de sair de casa. Mas ele não me escuta, e sempre quebra algo de valor quando volta, pulando pela janela, sem o devido cuidado”.
Rimos juntos, mas fiquei a pensar antes de dormir... É possível que ‘Bel Gê quisera-nos designar, em sua elegante metáfora, como objetos usados pelo Estado, com as qualidades do labrador, numa estreita relação de semelhança: todos gostam e acreditam que seja pela educação que se transforma um país, mas tratam os professores como cão.
Charles Frazão de Almeida - Contador e Advogado, atua na área de planejamento familiar e empresarial
Endereço eletrônico: frazao53.advocacia@gmail.com
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