O peso do açoite - por Andrey Cavalcante

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

Não há como evitar! A elevação da alíquota do ICMS, determinada pelo Governo do Estado como reação antecipada e “preventiva” aos imaginados efeitos deletérios da reforma tributária, vai alimentar a inflação e desabar pesadamente, como vergalho de três pontas, sobre o costado do mais pobre. Fora disso, todo o resto é especulação. A reforma orçamentária ainda tramita no Senado e, com certeza, volta profundamente alterada à Câmara, obrigada a nova rodada de discussões. Mas o aumento do ICMS começa a viger em janeiro e seus reflexos já integram a previsão orçamentária do governo de quase R$ 15 bilhões para 2024. 
 
A medida fiscal não é exclusividade rondoniense. Mais 16 estados e o DF já recorreram a ela, segundo o Confaz. Argumentam buscar recuperação de perdas, mas o que visam é uma posição mais robusta na futura divisão do IVA pós reforma tributária. "Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências" – já advertia Neruda. As cabeças pensantes do governo certamente sabiam disso ao adotar a medida. O imposto, embutido dos produtos, será repassado ao consumidor final, assim como a perda do poder de compra dos salários com a inflação. Sem dinheiro, o público seleciona ainda mais o que (não) comprar, o que implica em redução das vendas no comércio, comprometimento da produção nas fábricas e menos arrecadação para os cofres públicos. 
 
É o efeito cascata da exaustão tributária – ponto da curva a partir do qual o aumento de impostos produz revolta, insatisfação, desemprego, inflação, informalidade, sonegação. E zero receita! O ministro Gilmar Mendes já advertiu o governo sobre o risco em agosto de 2021. Felizmente o governo de Rondônia não se mostra insensível à avalanche de protestos desencadeada com a aprovação do reajuste. Especialmente a pronta resposta da OAB, que produziu, de imediato e com o apoio de 37 entidades representativas da sociedade civil e do setor produtivo, um grave manifesto contra a aprovação e sanção da Lei N° 5.629/23, especialmente pela meteórica tramitação. Para exigir a imediata revogação da lei. 
 
Reuniões patrocinadas pelo governo no CPA, com 92 representantes do setor produtivo, sinalizaram com a perspectiva de redução da alíquota de 21%, segundo a Secretaria de Finanças. O secretário Luiz Fernando Pereira da Silva anunciou para esta semana o envio de uma nova proposta de reajuste à Assembleia. “Aceitável”, segundo ele, “pelo setor produtivo e suportável pelo governo, diante da sua necessidade de recomposição de receitas". É óbvio que a discussão de tema tão controverso e a busca de consenso entre quem paga, quem recebe e quem está condenado a sentir os efeitos do vergalho - o cidadão rondoniense - deveria ter acontecido antes do envio da primeira mensagem à Assembleia. Mas conceda-se ao governo o benefício da boa vontade.
 
Mas em tal circunstância e independentemente no número estabelecido em tal “decisão consensual”, é certo que o aumento virá, qualquer que seja ele. E trará efeitos nefastos para a parte mais frágil do sistema, que é aquela que paga mais impostos. A economia não é um jogo de soma zero, no qual um dos participantes tem que perder para que o outro possa ganhar. O bolo das riquezas não é fixo, o que, pelo menos teoricamente, permitiria que todos os jogadores pudessem ganhar. A diferença, no caso do aumento de impostos, é que o governo aumenta a fatia do bolo que irá para seu prato. Daí que, não importa o quanto a riqueza possa crescer: os custos serão invariavelmente pagos justamente por aqueles aos quais são destinadas as menores parcelas. 
 
*Andrey Cavalcante é ex-presidente e atual membro honorário vitalício da OAB Rondônia
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Qual sua opinião sobre o bloqueio de emendas parlamentares?
Você acredita que a gestão Hildon Chaves realmente teve 90% de aprovação?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS